terça-feira, 18 de novembro de 2014

Viagem Insólita ao Berço do Samba – A Pedra do Sal


A Pedra do Sal é pedra, e cultura, é matéria e espírito.”


A Pedra do Sal é pedra, e cultura, é matéria e espírito. Ela protege os moradores e é protegida por eles. A sua existência, concreta e simbólica, alimenta a consciência preservacionista daquele cantão da cidade, e contribui para a constante atualização, construção e reconstrução da memória da localidade.” – Por Mário Chagas.
U
ma coisa que o brasileiro gosta, sem dúvida é o samba. A cada ano, aumentam os preparativos para um dos maiores espetáculos da terra: o carnaval. Não só o carioca, mais o mundo inteiro esta a espera de ouvir o som da bateria, ver as lindas mulatas e as baianas. E foi aqui, no Rio de Janeiro que este espetáculo teve início. Em um lugar muito especial, cercado de fé, lutas, esperança e muita alegria.




Pedra do Sal no Morro da Conceição, no Porto Maravilha

Pedra do Sal, o mais antigo monumento vinculado à história do samba carioca, está situada no morro da Conceição. Além de ser o local onde se descarregava o sal vindo dos navios que atracavam no porto (onde saiu o nome do local), era ponto de desembarque de navios no século XVIII, vindos da África para comercialização de escravos. Muitos deles, fracos e doentes, não tinham condições de serem vendidos, assim, ficavam nas chamadas “casas de engorda” para alimentação e recuperação. Logo após a “engorda”, eram vendidos no Cais do Valongo, onde era instalado o mercado. Já na virada da década de XIX para década XX, muitos negros chegaram do nordeste, para ser mais específico, da Bahia.
Ela protege os moradores e é protegida por eles”.
Da Bahia, chegaram as “tias”, que acolhiam em seus ranchos, baianos que chegavam dos navios com “bandeira branca”, sinal de quem vinha de sua terra natal. Dentre elas estavam tia Sadata e tia Ciata, mulheres importantes não só na religião, mas também na música, pois promoviam “pagodes” em suas casas; festas dançantes com música de primeira e seus famosos quitutes. Grandes compositores passaram por lá, como Heitor dos Prazeres, Donga, Sinhô e João da Baiana. Estas mulheres merecem um capítulo à parte.
A Pedra do Sal é pedra, e cultura, é matéria e espírito.”


Patrimônio Afro Brasileiro na Pedra do Sal


Neste lugar, que era ponto de referência da cultura negra, se fazia também despachos, oferendas aos orixás. Para muitos, um lugar sagrado. Não só isso, o local também foi palco dos primeiros cordões e ranchos como o famoso “Dois de Ouro”, uma espécie de bloco carnavalesco. Em 1917, Donga em parceria de Mauro de Almeida, fizeram a música Pelo Telefone, o primeiro samba gravado no Brasil, A canção foi no quintal da casa da Tia Ciata, na Praça Onze. Assim começava o carnaval carioca, com Heitor dos Prazeres, que é tido como o introdutor do Pandeiro no samba. Também de um dos “filhos da pedra” surgiu Pixinguinha, que era saxofonista, flautista, compositor e arranjador. A ala das baianas é uma homenagem as “tias do samba”, que quando era marginalizado, abrigava os sambistas perseguidos.
A sua existência, concreta e simbólica, alimenta a consciência preservacionista daquele cantão da cidade, e contribui para a constante atualização, construção e reconstrução da memória da localidade.”
Tombada como patrimônio pelo governo do estado por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC, em 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, de 1984, a Pedra do Sal de fato merece respeito. Até hoje há descendentes de escravos africanos no local que lutam por reconhecimento de que o lugar era uma área quilombola.
Comecei com o texto de Mário Chagas que faz uma brilhante síntese de que é este lugar maravilhoso. O samba acontece até hoje, toda segunda e sexta feira.

Por Gilmar Freitas



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