“A
Pedra do Sal é pedra, e cultura, é matéria e espírito. Ela
protege os moradores e é protegida por eles. A sua existência,
concreta e simbólica, alimenta a consciência preservacionista
daquele cantão da cidade, e contribui para a constante atualização,
construção e reconstrução da memória da localidade.” – Por
Mário Chagas.
U
ma
coisa que o brasileiro gosta, sem dúvida é o samba. A cada ano,
aumentam os preparativos para um dos maiores espetáculos da terra: o
carnaval. Não só o carioca, mais o mundo inteiro esta a espera de
ouvir o som da bateria, ver as lindas mulatas e as baianas. E foi
aqui, no Rio de Janeiro que este espetáculo teve início. Em um
lugar muito especial, cercado de fé, lutas, esperança e muita
alegria.
Pedra do Sal no Morro da Conceição, no Porto Maravilha |
Pedra
do Sal, o mais antigo monumento vinculado à história do samba
carioca, está situada no morro da Conceição. Além de ser o local
onde se descarregava o sal vindo dos navios que atracavam no porto
(onde saiu o nome do local), era ponto de desembarque de navios no
século XVIII, vindos da África para comercialização de escravos.
Muitos deles, fracos e doentes, não tinham condições de serem
vendidos, assim, ficavam nas chamadas “casas de engorda” para
alimentação e recuperação. Logo após a “engorda”, eram
vendidos no Cais do Valongo, onde era instalado o mercado. Já na
virada da década de XIX para década XX, muitos negros chegaram do
nordeste, para ser mais específico, da Bahia.
“Ela
protege os moradores e é protegida por eles”.
Da
Bahia, chegaram as “tias”, que acolhiam em seus ranchos, baianos
que chegavam dos navios com “bandeira branca”, sinal de quem
vinha de sua terra natal. Dentre elas estavam tia
Sadata
e tia
Ciata,
mulheres importantes não só na religião, mas também na música,
pois promoviam “pagodes” em suas casas; festas dançantes com
música de primeira e seus famosos quitutes. Grandes compositores
passaram por lá, como Heitor
dos Prazeres,
Donga,
Sinhô
e João
da Baiana.
Estas mulheres merecem um capítulo à parte.
“A
Pedra do Sal é pedra, e cultura, é matéria e espírito.”
Patrimônio Afro Brasileiro na Pedra do Sal |
Neste
lugar, que era ponto de referência da cultura negra, se fazia também
despachos, oferendas aos orixás. Para muitos, um lugar sagrado. Não
só isso, o local também foi palco dos primeiros cordões e ranchos
como o famoso “Dois de Ouro”, uma espécie de bloco carnavalesco.
Em 1917, Donga em parceria de Mauro de Almeida, fizeram a música
Pelo
Telefone,
o primeiro samba gravado no Brasil,
A
canção foi no quintal da casa da Tia
Ciata,
na Praça
Onze.
Assim começava o carnaval carioca, com Heitor dos Prazeres, que é
tido como o introdutor do Pandeiro no samba. Também de um dos
“filhos da pedra” surgiu Pixinguinha, que era saxofonista,
flautista, compositor e arranjador. A ala das baianas é uma
homenagem as “tias do samba”, que quando era marginalizado,
abrigava os sambistas perseguidos.
“A
sua existência, concreta e simbólica, alimenta a consciência
preservacionista daquele cantão da cidade, e contribui para a
constante atualização, construção e reconstrução da memória da
localidade.”
Tombada
como patrimônio pelo governo do estado por meio do Instituto
Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC, em 20 de novembro, Dia
Nacional da Consciência Negra, de 1984, a Pedra do Sal de fato
merece respeito. Até hoje há descendentes de escravos africanos no
local que lutam por reconhecimento de que o lugar era uma área
quilombola.
Comecei
com o texto de Mário Chagas que faz uma brilhante síntese de que é
este lugar maravilhoso. O samba acontece até hoje, toda segunda e
sexta feira.
Por Gilmar Freitas
Por Gilmar Freitas
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