Vista parcial da aprazível Santa Tereza |
Quem anda pelas ruas de Santa Teresa tem a sensação de percorrer um Rio
de outro século. A história do bairro, que antigamente era chamado Morro do
Desterro e servia como rota de fuga para escravos, se confunde com a da
própria cidade.
Ali foi fundado o primeiro convento feminino da região: o Convento de Santa
Teresa da Ordem das Carmelitas Descalças. Deixando um pouco de lado o
caráter religioso, a maior herança deixada pelas freiras, pode ser considerada a
inspiração para criação do Bloco das Carmelitas, que é hoje marca registrada
do tradicional carnaval de rua carioca.
O Bloco começou a farrear em 1990 quando um grupo de peladeiros que
jogava futebol no Parque das Ruínas bebeu um pouco demais e teve a ideia de
fundá-lo. “Vagabundos e altaneiros”, como os definiu Chacal em um programa
que fez para a TVE, os craques e pernas-de-pau não esperaram nem o
carnaval do ano seguinte para botar o bloco na rua, no caso a rua Dias de
Além do futebol, da cerveja e do samba, o amor ao bairro unia os fundadores
do bloco. Por isso, quando precisaram lhe dar um nome, pensaram logo em
Santa Teresa. Como bloco sem irreverência é melhor nem sair, um dos mais
criativos entre os peladeiros falou que viu uma freira pular o muro do convento
para brincar o carnaval, história que pareceu verossímil para todos em volta da
mesa. Daí o nome Bloco das Carmelitas.
O bairro é símbolo de resistência cultural: inúmeros músicos, artistas plásticos,
atores e intelectuais residem ou tem seus ateliês por ali. Por isso “Santa” (para
os íntimos) tornou-se um grande pólo gerador de cultura. O bairro demonstra
ter vocação cosmopolita, com grande participação de estrangeiros radicados
no Brasil, que participam ativamente da construção da cena carioca.
Um evento clássico, que realizou sua 24 edição em 2014, o Arte de Portas
Abertas, mantém-se no calendário da cidade com grande êxito e atrai cerca de
30.000 visitantes por ano.
São inúmeros ateliês e espaços culturais que ficam abertos por todo o
perímetro do bairro durante um fim de semana determinado, mostrando o
trabalho de artistas plásticos, além de restaurantes, lojas, espaços de moda e
até projetos sociais e de hospedagem.
À disposição do público, gravuras, desenhos, pinturas, entre outras artes. Uma
produção diversificada, com utilização de diferentes conceitos e materiais, que
dão um panorama do que se tem feito na arte contemporânea brasileira – e a
democratizam com preços acessíveis.
Fruto da articulação de artistas e moradores, o projeto cresceu no decorrer dos
anos impulsionando de maneira decisiva uma renovação urbana e social no
bairro.
Atualmente a violência tem sido um dos maiores problemas a serem
enfrentados pelos moradores e frequentadores do lugar que sofrem com o
aumento do número de assaltos e a ineficiência do policiamento. De acordo
com dados do Instituto de Segurança Pública referentes aos meses de maio,
junho, julho e agosto, os últimos computados, os roubos de veículos, por
exemplo, registrados na delegacia de Santa Teresa (7ªDP) subiram 133,33%.
Foram 12 casos em 2013 contra 28 ocorrências no mesmo período de 2014.
O transporte público na região também é considerado bastante precário. Um
dos símbolos do bairro e do Rio Antigo, o bondinho, foi inaugurado como meio
de transporte em 1872 e hoje segue em obras após um acidente que matou 6
pessoas e deixou mais de 50 feridos em 2011.
Obras atrasadas, polêmicas e brigas com associação de moradores (AMAST)
permeiam o imbróglio que se instaurou desde o grave acidente.
A reinauguração dos bondes de Santa Teresa está atrasada desde março. A
primeira previsão do Governo do Estado era entregar concluir a primeira fase
das obras até o terceiro mês de 2014. O prazo foi estendido para até o início da
Copa do Mundo, em junho, mas também não foi cumprido.
O novo bonde passa por testes desde agosto, na Rua Joaquim Murtinho, em
Santa Teresa. Segundo o Governo do Rio de Janeiro, foram instalados 3,5 km
de trilhos e rede no trecho em operação. A subestação de energia e oficina
também foram reformadas.
Apesar dos pesares o bairro, que sempre foi sinônimo de requinte, segue na
luta por maior atenção do poder público e mantém preservada um pouco da
tradição e beleza arquitetônica da cidade. Vale a pena conferir.
Por Georgia Puga
Por Georgia Puga
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